sábado, agosto 14, 2010

Meu amigo , meu irmão

Uma quarta-feira normal , céu limpo e azul , bastante calor . Dia perfeito para ir brincar na rua.
Eu e meu irmão fomos pedir nossa mãe , estranhamente ela proibiu a brincadeira , fato que ela nunca fazia .
Ela por sua vez , disse que estava pressentindo algo muito ruim e que hoje não seria bom nós dois ir brincar na rua. Meu irmão e eu , por sermos novos ( ele 12 anos e eu 14 anos ) não queriamos ouvi-lá e começamos a chorar , gritar e até se jogar no chão , pirraça mesmo . De tanto choro , ela acabou deixando mesmo contra sua vontade.
Abrimos o portão animados , meu irmão foi o primeiro a sair , era nossa liberdade brincar com nossos amigos , se sentiamos bem . Ele passou como um raio por mim , quando coloquei o pé pra fora do portão congelei , tremia muito e um leve suspiro eu dei. Olhei fundo nos olhos dele , ele com a cara de que não intendeu nada me perguntou o que tinha acontecido . Falei que nada . Eu sabia que se não fosse seria a maior decepção para ele , virei e disse que estava brincando de estátua , ai ele rapidamente sorriu e falou : "Ganhei então , estátua não fala".
Eu tinha a certeza de que algo iria acontecer , mas não sabia exatamente o que era . Fomos chamar nossos amigos , o engraçado é que alguns não quizeram brincar por causa do calor que fazia e outros haviam saido. Aproveitando o desfecho da brincadeira , peguei na mão dele e disse : ''Vamos , ninguém quer brincar hoje" . Ele mesmo triste aceitou ir embora.

Estavamos a quase 15 metros do portão de casa , eu acelerando o passo e nervoso puxava ele rapidamente.
Derepente um grito surgiu do nada - Corre !
Minha reação de desespero foi a única que podia acontecer , eu por ser mais rápido e por sentir algo estranho corri , meu irmão não . Ficou parado sem entender nada .
Esse grito de corre , era de um senhora que em pânico , virou a esquina da rua onde moravamos. Juntamente com ela e com o grito , um carro todo escuro e um carro da policia vinham na direção de onde meu irmão estava , trocando tiro.
A distância que fiquei do meu irmão era pequena , mas crucial para a tragédia. Um tiro por traz , atingiu covardemente meu irmão , ele não teve tempo de correr. Olhei pra ele e no exato momento , uma lágrima dos meus olhos saiu e um grito eu dei . "Nãooooooooooo !".
Minha mãe ouviu o tiro e saiu de casa chorando demais, eu estava de frente pro meu irmão e ela na direção contraria . Corremos em direção dele , eu estava mais perto e cheguei primeiro , peguei na mão dele , minha mãe não aguentou e acabou desmaiando. Ele já caindo , levemente na minha frente , falou bem baixo pra mim : "Você sabe que AMO VOCÊ  né , meu amigo". Na hora abracei ele e chorei muitoeu sabia que estava perdendo ele . Eu gritava desesperadamente "não , não ... não" !
Ali , minha vida acabava , nenhum sentido existia mais , brincadeiras estavam indo embora com ele . Minha base , meu diário ... Como ele disse , meu amigo.

Hoje , ( 5 anos depois )eu com 19 anos , não moro mais na rua onde ele se foinão tenho mais vontade de brincar e sorrir , minha única felicidade e alegria é nos meus sonhos reencontrá-lo . Minha mãe abriu um centro social , onde leva o nome dele , e cuida de crianças vitimas de violências. Eu casei , tenho uma esposa fantastica , e o nome do meu filho leva o mesmo nome do meu irmão , Bernardo Marck Gomes.



Texto esclusivo de   Bismarck'Salles

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